CIPAA - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes

Como Denunciar Assédio Moral com Segurança: Passo a Passo Completo

Tomar a decisão de denunciar o assédio moral é um dos passos mais difíceis e corajosos que uma vítima pode dar. O medo de retaliação, de não ser acreditado, de perder o emprego ou de ser rotulado como “problemático” é real e paralisante. No entanto, o silêncio quase nunca é a solução. Ficar calado não apenas permite que o agressor continue suas práticas abusivas, como também agrava os danos à sua saúde mental e carreira. A denúncia, quando feita de forma estratégica e segura, é o caminho para quebrar o ciclo de abuso e reaver sua dignidade.

Mas como fazer isso da maneira correta? Denunciar o assédio moral não é simplesmente chegar ao RH e desabafar. É um processo que exige preparação, documentação e uma estratégia clara para proteger você de possíveis consequências negativas. Uma denúncia mal fundamentada pode ser facilmente desacreditada, e uma abordagem impulsiva pode expor você a ainda mais riscos.

Este guia completo foi criado para ser o seu aliado nesse momento delicado. Aqui, você encontrará um passo a passo detalhado, desde a coleta de provas até a formalização da denúncia nos canais corretos. Vamos abordar como construir um caso sólido, a quem recorrer dentro e fora da empresa, e quais são seus direitos durante todo o processo. O objetivo é dar a você a confiança e as ferramentas necessárias para denunciar o assédio moral de forma segura e eficaz, protegendo sua saúde e seu futuro profissional.

Antes da Denúncia: A Fase de Preparação Estratégica

Antes de dar qualquer passo formal, a preparação é a chave para o sucesso e para a sua segurança. Agir por impulso é o maior erro que uma vítima pode cometer. Dedique tempo a esta fase.

Passo 1: Aceite a Realidade e Valide Seus Sentimentos

O primeiro passo, e talvez o mais difícil, é interno. Você precisa reconhecer que o que está acontecendo não é “normal”, não é “brincadeira” e, o mais importante, não é sua culpa. O assédio moral é uma forma de violência. Valide seus sentimentos de raiva, tristeza, medo e confusão. Se você ainda tem dúvidas, releia nosso guia sobre como identificar os 12 sinais de assédio moral. Essa validação interna lhe dará a força necessária para os próximos passos.

Passo 2: A Coleta de Provas (Seu Dossiê Confidencial)

No direito do trabalho, a regra geral é que quem alega, precisa provar. Portanto, a coleta de provas é a etapa mais crítica de todo o processo. Crie um dossiê confidencial, preferencialmente em um local seguro fora da rede da empresa (seu e-mail pessoal, um HD externo, etc.).

O que documentar?

•Diário Detalhado: Este é o documento mais importante. Para cada incidente, anote:

•Data e Hora: Seja o mais preciso possível.

•Local: Onde aconteceu (sala de reunião, corredor, etc.).

•Pessoas Presentes: Quem viu ou ouviu o ocorrido? Liste todas as testemunhas potenciais.

•Descrição Fática: Descreva o que aconteceu de forma objetiva, sem adjetivos. Em vez de “ele me humilhou”, escreva “ele gritou na frente de todos que meu trabalho era um lixo”.

•Citações Exatas: Se possível, anote as palavras exatas que foram ditas.

•Seu Sentimento: Anote como você se sentiu após o episódio (humilhado, ansioso, com medo, etc.).

•Provas Digitais:

•E-mails e Mensagens: Guarde todos os e-mails, mensagens de WhatsApp, Teams, Slack, etc., que contenham ordens contraditórias, críticas injustas, ameaças ou linguagem abusiva. Faça capturas de tela e backups.

•Gravações de Áudio e Vídeo: A legalidade de gravar conversas sem o consentimento da outra parte varia. Em geral, se você é um dos interlocutores, a gravação é considerada lícita e pode ser usada como prova em juízo. No entanto, consulte um advogado antes de usar essa tática.

•Provas Documentais:

•Atestados Médicos: Se você precisou de atendimento médico ou psicológico devido ao estresse, guarde todos os atestados, laudos e receitas. Peça ao profissional para incluir no laudo a conexão entre os sintomas e o ambiente de trabalho (CID-10 F43.2 – Transtorno de Adaptação).

•Avaliações de Desempenho: Guarde avaliações antigas que mostrem seu bom desempenho antes do início do assédio. Isso contrasta com críticas repentinas e infundadas.

•Controles de Jornada: Registros de ponto que comprovem horas extras excessivas e não pagas.

Passo 3: Identifique Suas Testemunhas

O depoimento de testemunhas é extremamente valioso. Pense em colegas que:

•Presenciaram os atos de assédio diretamente.

•Não foram assediados, mas podem testemunhar sobre o tratamento diferenciado que você recebia.

•Sofreram assédio do mesmo agressor no passado (mesmo que já tenham saído da empresa).

Como abordar uma testemunha?

Seja cauteloso. Muitas pessoas têm medo de se envolver. Aborde-as de forma privada e confidencial. Diga algo como: “Você viu o que aconteceu na reunião de ontem. Aquilo me afetou muito. Eu estou documentando essas situações e gostaria de saber se, no futuro, eu poderia contar com você para confirmar o que viu”. Não pressione. Respeite se a pessoa não se sentir confortável.

Passo 4: Busque Apoio Externo (Antes de Agir Internamente)

Antes de levar a denúncia aos canais internos da empresa, construa sua rede de apoio externa. Isso é crucial para sua estabilidade emocional e para uma estratégia bem-sucedida.

•Apoio Psicológico: Um terapeuta pode ajudá-lo a lidar com o estresse do processo e a fortalecer sua resiliência emocional.

•Apoio Jurídico: Consulte um advogado trabalhista. Esta é a recomendação mais importante. Um advogado poderá analisar suas provas, orientar sobre a melhor estratégia, explicar seus direitos e os riscos envolvidos. Muitos advogados oferecem uma primeira consulta gratuita ou a baixo custo.

•Apoio Sindical: O sindicato da sua categoria pode oferecer suporte jurídico e mediar conflitos com a empresa.

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A Denúncia: Canais e Procedimentos

Com o dossiê preparado e o apoio externo garantido, é hora de decidir como e onde formalizar a denúncia.

Opção 1: Canais Internos da Empresa

Na maioria dos casos, a recomendação é tentar resolver a questão internamente primeiro, a menos que a cultura da empresa seja extremamente tóxica ou o agressor seja o próprio dono.

A quem recorrer?

1.Recursos Humanos (RH): É o canal mais comum. Agende uma reunião formal e apresente sua denúncia por escrito, de forma clara e objetiva. Entregue uma cópia do seu dossiê (guardando os originais com você).

2.Canal de Denúncias (Compliance/Ouvidoria): Se a empresa tiver um departamento de compliance ou um canal de denúncias formal (muitas vezes terceirizado e anônimo), utilize-o. Esses canais costumam ter processos de investigação mais estruturados.

3.CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes): A CIPA, especialmente em sua nova concepção de CIPAA (incluindo o “A” de Assédio), é um canal importante. Seus membros têm estabilidade e podem ajudar a pressionar a empresa por uma solução. Saiba mais sobre o papel da CIPA na prevenção do assédio.

4.Superior Hierárquico do Agressor: Se o seu agressor é seu chefe direto, você pode recorrer ao superior dele. Faça isso com cautela, apenas se tiver confiança na integridade dessa pessoa.

Como formalizar a denúncia interna?

•Sempre por escrito: Não confie em conversas informais. Envie um e-mail ou protocole um documento.

•Seja factual: Apresente os fatos do seu diário, sem excesso de adjetivos ou emoções.

•Peça um prazo: Solicite um prazo para a empresa investigar e dar um retorno.

•Documente a denúncia: Guarde uma cópia do documento protocolado ou o e-mail enviado.

Opção 2: Canais Externos

Se a denúncia interna não surtir efeito, ou se você não se sentir seguro para fazê-la, existem canais externos.

1.Ministério Público do Trabalho (MPT): O MPT é um órgão poderoso que pode investigar a empresa. A denúncia é gratuita e pode ser feita online. O MPT pode propor um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) à empresa ou mover uma Ação Civil Pública.

2.Superintendência Regional do Trabalho (antiga DRT): Auditores fiscais podem inspecionar a empresa e aplicar multas se constatarem irregularidades.

3.Sindicato da Categoria: O sindicato pode notificar a empresa e tentar uma mediação.

Opção 3: A Via Judicial

A ação na Justiça do Trabalho é geralmente o último recurso, mas pode ser o primeiro dependendo da gravidade e da orientação do seu advogado.

O que você pode pleitear?

•Rescisão Indireta do Contrato de Trabalho: É a “justa causa” do empregado. Se o assédio for comprovado, você pode “demitir” a empresa e receber todos os seus direitos como se tivesse sido demitido sem justa causa (aviso prévio, multa de 40% do FGTS, etc.).

•Indenização por Danos Morais: Uma compensação financeira pelo sofrimento psicológico causado.

•Indenização por Danos Materiais: Se você teve despesas com médicos, psicólogos e medicamentos, pode pedir o reembolso.

⚠️ Atenção: Nunca peça demissão antes de consultar um advogado! Pedir demissão pode fazer com que você perca direitos importantes. A rescisão indireta é o caminho correto quando a continuidade do trabalho se torna insustentável.

Durante a Investigação: Como se Proteger

Após a denúncia, a empresa deve iniciar um processo de investigação. Este período pode ser estressante. Proteja-se.

•Mantenha a Discrição: Não comente sobre a denúncia com colegas que não sejam de sua extrema confiança. O agressor pode tentar usar isso contra você.

•Continue Profissional: Mantenha seu desempenho no trabalho impecável. Não dê motivos para ser acusado de insubordinação ou baixo rendimento.

•Documente a Investigação: Anote com quem você falou, quando e o que foi dito. Se for chamado para reuniões, peça para levar uma testemunha de sua confiança ou seu representante sindical.

•Cuidado com Acordos Suspeitos: Não assine nenhum documento ou acordo sem que seu advogado o analise primeiro.

•Monitore Retaliações: Se você sofrer qualquer tipo de retaliação após a denúncia (ser transferido, ter tarefas retiradas, etc.), documente imediatamente e informe seu advogado e o canal que está investigando. A retaliação é ilegal e fortalece o seu caso.

Conclusão: Empoderamento Através da Ação Estratégica

Denunciar o assédio moral é um ato de auto-respeito e coragem. Embora o caminho possa ser desafiador, ele é libertador. Ao seguir este passo a passo, você transforma o medo e a confusão em ação estratégica, aumentando significativamente suas chances de obter justiça e proteger sua saúde mental.

Lembre-se dos pilares para uma denúncia segura: documentar, buscar apoio e agir estrategicamente. Você não precisa passar por isso sozinho. Existem profissionais e órgãos prontos para ajudar. O passo mais importante é o primeiro: decidir que você não vai mais tolerar o abuso.

Ao denunciar, você não está apenas defendendo a si mesmo. Você está contribuindo para um ambiente de trabalho mais justo e ético para todos, ajudando a garantir que futuros colegas não passem pelo mesmo sofrimento. Sua coragem pode ser a faísca que inicia uma mudança cultural positiva em sua empresa.

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